10 março, 2025

Falem bem ou mal, Mas falem do Cinema Nacional - Carandiru


 

Ao terminar o livro, a vontade de rever o filme de Hector Babenco surge como um ímpeto natural. Quero enxergar na tela as nuances que Drauzio desenhou com palavras. Mas, ao dar o play, percebo algo curioso: o Carandiru.

Enquanto Drauzio, com seu olhar clínico e empático, nos apresenta histórias de indivíduos de presidiários com o distanciamento de quem precisa salvar vidas sem julgar seus pacientes, Babenco nos joga no olho do furacão. O filme não economiza em choques visuais e atuações intensas, condensando personagens e desenvolvendo relatos em uma narrativa mais linear. Se no livro há espaço para a oralidade e o devaneio, no cinema, há urgência e fatalidade.

A diferença mais gritante, porém, não é impacto final. No livro, o massacre do Carandiru se desenha aos poucos, uma tragédia anunciada que chega com o peso da impotência. No filme, a chacina vem como um golpe brutal, quase sem aviso, preenchendo a tela com o sangue de um sistema falido. O espectador não tem tempo para a reflexão serena que o Drauzio-escritor proporciona; é atingido pela violência de forma crua e direta.

Ao terminar o filme, feche os olhos e ouça a voz do médico ecoando em minha memória: "A cadeia é um mundo à parte, com seus próprios leis e sentimentos". A ficção, por mais bem feita que seja, jamais substituirá a complexidade do relato real. Mas talvez seu papel não seja esse. Talvez a força do Carandiru , o filme, esteja nas histórias.

O filme possui mais de 20 anos de lançado, mas vale ser visto sim. 

Fica a dica

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