16 julho, 2025

Valparaíso de Goiás sedia primeira Mostra de Cinema Quilombola com reflexões sobre identidade e território



Evento no CEU das Artes exibiu documentários, promoveu debates e celebrou a cultura afro-brasileira com oficinas e literatura negra

No último sábado, 17 de maio de 2025, Valparaíso de Goiás foi palco da **1ª Mostra de Cinema Quilombola**, organizada pelo **Cine Lobeira** no **CEU das Artes**. Com o tema **“Um olhar quilombola sobre o Brasil”**, o evento reuniu lideranças, cineastas e o público em geral para uma programação que mesclou exibições de filmes, debates, música e atividades culturais.  

### **Cinema como ferramenta de resistência**  

A mostra abriu espaço para vozes quilombolas com a exibição do documentário **“Meada Cor Kalunga”**, dirigido pela liderança **Marta Kalunga**, que também participou de um bate-papo sobre territórios e identidade. Outro destaque foi a participação de **Paulo Alexandre**, representante do **Quilombo Mesquista** (Cidade Ocidental), que apresentou um filme do renomado cineasta **Vladimir Carvalho**.  

A programação ainda incluiu **filmes infantis com temática quilombola**, reforçando a importância da representação negra desde a infância. Após as exibições, o **professor e pesquisador Franco Adriano** mediou um debate e emocionou o público com uma **canção autoral**, unindo arte e reflexão.  

### **Cultura viva: oficinas, literatura e percussão**  

Além do cinema, o evento contou com a **Biblioteca Bitita**, projeto itinerante de **literatura negra**, e uma **oficina de percussão** comandada pelo **Mestre Cezinha**, do bloco afro **Rum Black**. O **Instituto IBEDE** também marcou presença, fortalecendo a rede de apoio à cultura e educação quilombola.  

### **Acessibilidade e inclusão**  

O CEU das Artes proporcionou um **ambiente acessível**, com tradução em **Libras** e estrutura adaptada, garantindo que todos pudessem participar.  

### **Cine Lobeira: cinema como transformação social**  

A mostra integra o projeto **Cine Lobeira**, coordenado pelo **cineasta e morador Thiago Maroca**, que busca levar o cinema a periferias e comunidades, promovendo discussões filosóficas e políticas por meio da sétima arte.  

**“Mais do que exibir filmes, queremos fortalecer narrativas quilombolas e mostrar como o cinema pode ser um instrumento de luta e valorização cultural”**, destacou Maroca.  

O sucesso do evento reforça a importância de iniciativas que ampliem o acesso à cultura e celebrem a diversidade brasileira, colocando Valparaíso de Goiás no mapa das discussões sobre representatividade e cinema independente.  








08 maio, 2025

Vem aí o CINE PENSAR - Um olhar quilombola sobre o Brasil

 


O cine Lobeira voltou em 2025 com tudo. Um projeto diferente para levar o cinema e cultura para a população de valparaiso.

"Cine Lobeira Apresenta: Cine Pensar – Um Olhar Quilombola sobre o Brasil" promete ser uma experiência cultural rica e diversa.


📅 Data: 17 de maio

⏰ Horário: A partir das 14h

📍 Local: CEU das Artes de Valparaíso


Programação:

14:30 🥁 Oficina de percussão com Afro Rum Black – Uma imersão nos ritmos afro-brasileiros.

16:00🎬 Mostras de cinema infantil 

17:00🎬 Mostras de cinema Quilombola

18:00💬 Bate-papo especial com Marta Kalunga – Cineasta e liderança quilombola, trazendo reflexões importantes sobre o Brasil.

19:00 Encerramento!


Uma ótima oportunidade para celebrar a cultura quilombola, o cinema e a música. Não perca!



10 março, 2025

Falem bem ou mal, Mas falem do Cinema Nacional - Carandiru


 

Ao terminar o livro, a vontade de rever o filme de Hector Babenco surge como um ímpeto natural. Quero enxergar na tela as nuances que Drauzio desenhou com palavras. Mas, ao dar o play, percebo algo curioso: o Carandiru.

Enquanto Drauzio, com seu olhar clínico e empático, nos apresenta histórias de indivíduos de presidiários com o distanciamento de quem precisa salvar vidas sem julgar seus pacientes, Babenco nos joga no olho do furacão. O filme não economiza em choques visuais e atuações intensas, condensando personagens e desenvolvendo relatos em uma narrativa mais linear. Se no livro há espaço para a oralidade e o devaneio, no cinema, há urgência e fatalidade.

A diferença mais gritante, porém, não é impacto final. No livro, o massacre do Carandiru se desenha aos poucos, uma tragédia anunciada que chega com o peso da impotência. No filme, a chacina vem como um golpe brutal, quase sem aviso, preenchendo a tela com o sangue de um sistema falido. O espectador não tem tempo para a reflexão serena que o Drauzio-escritor proporciona; é atingido pela violência de forma crua e direta.

Ao terminar o filme, feche os olhos e ouça a voz do médico ecoando em minha memória: "A cadeia é um mundo à parte, com seus próprios leis e sentimentos". A ficção, por mais bem feita que seja, jamais substituirá a complexidade do relato real. Mas talvez seu papel não seja esse. Talvez a força do Carandiru , o filme, esteja nas histórias.

O filme possui mais de 20 anos de lançado, mas vale ser visto sim. 

Fica a dica

Primeiro Festival de Cinema de Valparaíso de Goiás: Prêmio Lobeira Celebra Produções Audiovisuais Locais

 Primeiro Festival de Cinema de Valparaíso de Goiás: Prêmio Lobeira Celebra Produções Audiovisuais Locais

Valparaíso de Goiás se prepara para receber o Primeiro Festival de Cinema PREMIO LOBEIRA, uma iniciativa que promete agitar a cena cultural local. O evento, que será realizado no sábado, 21 de dezembro de 2024, na Secretaria de Cultura da cidade, ocorrerá das 17h às 22h. O festival tem como principal objetivo valorizar as produções audiovisuais feitas com recursos da Lei Paulo Gustavo, oferecendo uma plataforma para cineastas locais e revelando o talento da região.

A entrada para o evento será gratuita, com direito à premiação das melhores obras em diversas categorias, incluindo a Mostra LGBT, a Mostra Pocket, e a Mostra de Videoclipes. O público poderá prestigiar a diversidade de produções e participar de uma verdadeira celebração da cultura local.

Programação:

  • 17h - Abertura: O festival começa com a recepção do público e a abertura oficial das atividades.

  • 18h30 - Mostra LGBT: A programação segue com a exibição de curtas e filmes que celebram a diversidade da comunidade LGBT, proporcionando um espaço de reflexão e expressão.

  • 19h00 - Mostra Pocket: Em sequência, o público poderá conferir os Pocket's, com apresentações de até 2 minutos de produções variadas e criativas.

  • 19h50 - Mostra de Videoclipes: Uma seleção de videoclipes inovadores será exibida, proporcionando uma experiência audiovisual vibrante.

  • 21h00 - Mostra de Cinema: O festival traz uma Mostra de Cinema com filmes de maior duração, explorando diferentes narrativas e estéticas cinematográficas.

  • 22h00 - Cerimônia de Encerramento e Premiação: O evento será encerrado com a entrega dos prêmios para as melhores produções, celebrando os destaques da noite.

Este é um evento imperdível para quem aprecia cinema, arte e cultura. Participe e valorize as produções locais que enriquecem a cultura de Valparaíso de Goiás. Não perca a chance de prestigiar essas incríveis obras audiovisuais e apoiar os artistas da nossa cidade!

Serviço:
Primeiro Festival de Cinema de Valparaíso de Goiás – Prêmio Lobeira
Data: Sábado, 21 de dezembro de 2024
Horário: 17h às 22h
Local: Secretaria de Cultura de Valparaíso de Goiás
Entrada: Gratuita

Venha se encantar com o talento local e vivenciar uma noite de muita cultura e emoção.


12 novembro, 2024

Falem bem ou mal mas falem do cinema nacional - Medida provisória

 


Em tempos de tantas medidas políticas urgentes e fragmentadas, *Medida Provisória*, primeiro filme de Lázaro Ramos como diretor, emerge como um grito de resistência, uma reflexão sobre a identidade, a justiça e a busca por um lugar no mundo. Baseado na peça homônima de Renato Fontana, o filme constrói uma distopia que não parece distante, e ao mesmo tempo, extrapola as fronteiras do medo e da raiva para colocar em jogo as relações humanas em um cenário de violência institucionalizada.

O enredo se passa em um Brasil de futuro próximo, onde uma medida provisória absurda é instaurada: todos os negros do país devem se registrar e deixar o Brasil, ou se sujeitar a serem deslocados para uma espécie de "território próprio", uma segregação racial. O filme, ao adaptar a peça para as telas, acentua o absurdo da proposta com uma sensibilidade muito própria de quem conhece profundamente as feridas do Brasil.

A história se concentra em Antônio (vivido por Alfred Enoch) e sua esposa, a médica Marivalda (Taís Araújo), que vivem o dilema de uma mudança forçada para o exterior, longe da terra natal e das suas raízes. A medida provisória, mesmo que não explicite de forma literal, carrega no seu âmago uma alegoria sobre a histórica e contínua diáspora negra, que nunca teve realmente a chance de repousar sobre sua terra, sua identidade e sua memória.

Em termos cinematográficos, Lázaro Ramos opta por um ritmo envolvente e uma estética que mistura o surreal com o dramático. A fotografia, com tons quentes e escuros, traz um tom de melancolia, mas também de intensidade. As personagens enfrentam o dilema de pertencer e não pertencer ao Brasil, uma sensação que, infelizmente, muitos negros, em diferentes contextos históricos e sociais, já experimentaram em carne e alma.

O filme também não se esquiva de abordar o sistema racista com uma violência disfarçada de “normalidade”. As relações sociais, nesse Brasil distópico, são dominadas pela precariedade de um estado que decide quem pertence a ele e quem não pertence. A sociedade, dividida pela brutalidade das medidas, reflete a própria herança colonial que nunca deixou de existir. O Brasil, com suas múltiplas camadas de exclusão, revela sua face mais crua e ao mesmo tempo, desolada.

O que é notável em *Medida Provisória* é a força de seus personagens centrais. Antônio e Marivalda não são apenas vítimas, mas também são símbolos da luta, da sobrevivência e da resistência. Eles buscam resgatar um espaço que é negado a eles pela própria estrutura social. Em uma das cenas mais tocantes do filme, eles discutem as possibilidades de fuga, de resistência, de adaptação. “Vamos para onde?”, pergunta ela. Ele responde: “Para onde é que a gente sempre foi…?” A questão do exílio, da busca por um lar que nunca foi plenamente conquistado, atravessa o filme com uma intensidade emocional palpável.

Lázaro Ramos não oferece respostas fáceis, mas provoca o espectador a refletir sobre as raízes da nossa história. A "medida provisória" do título é uma metáfora para tudo o que se constrói à margem, para as “leis” que excluem, que tentam apagar a memória e silenciar vozes. O filme se configura, assim, como um convite ao questionamento de quem somos e a quem pertencemos, a um convite para repensar a nossa relação com o outro e com a nossa história.

*Medida Provisória* não é apenas um filme sobre o futuro, mas sobre o que já vivemos, sobre a dor histórica que atravessa gerações, sobre as perguntas ainda sem respostas, sobre o deslocamento — físico e emocional — de uma população que é constantemente desconstruída. A beleza do filme está, então, no modo como ele nos força a olhar para o abismo e perceber que, mesmo no caos da distopia, a luta por um lugar no mundo continua a ser a nossa maior medida provisória.


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